Fernando
Hoje, dia 26 de Setembro, a mãe do José faz 50 anos. Hoje, dia 26 de Setembro, o seu tio Fernando, engenheiro, caiu de um andaime enquanto fiscalizava uma obra. Já depois de os médicos lhe estancarem a hemorragia cerebral, um TAC revelou o traumatismo craniano grave. Só daqui a doze horas será arriscado um prognóstico. Estado considerado crítico. A mãe do José acredita que o futuro está nas mãos de Deus. Ao telefone, separado da família por aquilo que lhe parece agora um universo intransponível de água, ele não tem coragem de lhe dizer que o Fernando está é dependente de pormenores e tecnicidades e ciência. Qual a zona de cérebro que foi afectada, a violência do golpe, a perícia e competência da equipa médica. São poucas as palavras que tem para ela. Pergunta pelos avós, pela tia, diz para terem coragem, que vai correr tudo bem. Um conjunto de frases feitas estúpidas e sem significado, tantas vezes utilizadas que parecem falsas e sem alma como um cartão que se compra no supermercado. Mesmo que sejam sinceras. Quer dizer-lhe tanto mais, mas não faz ideia de como o fazer, dar-lhe um abraço que se alarga a todos, mas nenhum amontoado de palavras poderá alguma vez substituir o calor humano, o carinho palpável como a humidade de Verão. Sente a necessidade de inventar letras novas, o que se revela impossível. Talvez ordenar as antigas de forma diferente, mas também não resulta. Descobre que as palavras nunca poderão ser calmantes, são inúteis quando encontram desespero, dor, a angustia da perca. Tudo o que pode fazer é estar lá, mesmo que se encontre a milhares de quilómetros de distância. Mas, apesar do seu esforço, José não consegue desejar os parabéns à mãe, cinquenta anos de vida, essa idade fantástica, que agora é ofuscada pela perspectiva da morte.
Hoje, dia 26 de Setembro, a mãe do José faz 50 anos. Hoje, dia 26 de Setembro, o seu tio Fernando, engenheiro, caiu de um andaime enquanto fiscalizava uma obra. Já depois de os médicos lhe estancarem a hemorragia cerebral, um TAC revelou o traumatismo craniano grave. Só daqui a doze horas será arriscado um prognóstico. Estado considerado crítico. A mãe do José acredita que o futuro está nas mãos de Deus. Ao telefone, separado da família por aquilo que lhe parece agora um universo intransponível de água, ele não tem coragem de lhe dizer que o Fernando está é dependente de pormenores e tecnicidades e ciência. Qual a zona de cérebro que foi afectada, a violência do golpe, a perícia e competência da equipa médica. São poucas as palavras que tem para ela. Pergunta pelos avós, pela tia, diz para terem coragem, que vai correr tudo bem. Um conjunto de frases feitas estúpidas e sem significado, tantas vezes utilizadas que parecem falsas e sem alma como um cartão que se compra no supermercado. Mesmo que sejam sinceras. Quer dizer-lhe tanto mais, mas não faz ideia de como o fazer, dar-lhe um abraço que se alarga a todos, mas nenhum amontoado de palavras poderá alguma vez substituir o calor humano, o carinho palpável como a humidade de Verão. Sente a necessidade de inventar letras novas, o que se revela impossível. Talvez ordenar as antigas de forma diferente, mas também não resulta. Descobre que as palavras nunca poderão ser calmantes, são inúteis quando encontram desespero, dor, a angustia da perca. Tudo o que pode fazer é estar lá, mesmo que se encontre a milhares de quilómetros de distância. Mas, apesar do seu esforço, José não consegue desejar os parabéns à mãe, cinquenta anos de vida, essa idade fantástica, que agora é ofuscada pela perspectiva da morte.
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