Testemunho
Quando acordei, não fazia ideia de onde estava. Dormi numa espécie de sala com um frigorífico encostado a um canto que parecia respirar. A primeira coisa que vi foi um velho de barba branca e chapéu de cowboy que bebia leite directamente do cartão. Senti ao meu lado a presença de uma rapariga de cabelos longos castanhos. Não me parecia portuguesa, mas não existe nacionalidade no sono, não estou certo. “Hi”, ele disse, “was my daughter nice?” Conseguia cheirar a destilação corporal de bebidas alcoólicas a mais de quatro metros, tal como o meu corpo transpirava whiskey irlandês e a boca era alcatrão puro. “Just perfect”, respondi, sem certeza nenhuma, era apenas a única resposta politicamente correcta que me veio à cabeça. Ele sorriu orgulhoso. Esperei que saísse antes de me levantar. Procurei a minha roupa em cantos e esquinas. Não encontrei uma meia. Vesti-me em silêncio. Ela acordou. Afastou os lençóis do seu corpo nú, caminhou na minha direcção e beijou-me na face. “Have a beautiful life”. Piscou-me o olho e voltou para a cama. Abandonei o apartamento, desci as escadas de mármore, passei por uma porta metalizada e dei por mim numa rua com os prédios todos iguais, esta podia ser qualquer cidade, qualquer subúrbio, qualquer vida. Caminhei perdido até encontrar um mapa da cidade de Lagos. Você está aqui. Respirei fundo. O sol brilhava apesar de incomodado pelas nuvens. Sentia-me como se tivesse acabado de nascer. Puro e simples. A rua na minha direita descia em direcção ao centro da cidade. Dei o primeiro passo. É sempre o mais difícil. O meu pé direito nú sentia as falhas na sola do sapato gasto.
Quando acordei, não fazia ideia de onde estava. Dormi numa espécie de sala com um frigorífico encostado a um canto que parecia respirar. A primeira coisa que vi foi um velho de barba branca e chapéu de cowboy que bebia leite directamente do cartão. Senti ao meu lado a presença de uma rapariga de cabelos longos castanhos. Não me parecia portuguesa, mas não existe nacionalidade no sono, não estou certo. “Hi”, ele disse, “was my daughter nice?” Conseguia cheirar a destilação corporal de bebidas alcoólicas a mais de quatro metros, tal como o meu corpo transpirava whiskey irlandês e a boca era alcatrão puro. “Just perfect”, respondi, sem certeza nenhuma, era apenas a única resposta politicamente correcta que me veio à cabeça. Ele sorriu orgulhoso. Esperei que saísse antes de me levantar. Procurei a minha roupa em cantos e esquinas. Não encontrei uma meia. Vesti-me em silêncio. Ela acordou. Afastou os lençóis do seu corpo nú, caminhou na minha direcção e beijou-me na face. “Have a beautiful life”. Piscou-me o olho e voltou para a cama. Abandonei o apartamento, desci as escadas de mármore, passei por uma porta metalizada e dei por mim numa rua com os prédios todos iguais, esta podia ser qualquer cidade, qualquer subúrbio, qualquer vida. Caminhei perdido até encontrar um mapa da cidade de Lagos. Você está aqui. Respirei fundo. O sol brilhava apesar de incomodado pelas nuvens. Sentia-me como se tivesse acabado de nascer. Puro e simples. A rua na minha direita descia em direcção ao centro da cidade. Dei o primeiro passo. É sempre o mais difícil. O meu pé direito nú sentia as falhas na sola do sapato gasto.
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