Isto somos nós
Os concertos em Portugal são cada vez mais estranhos. No pavilhão Atlântico, a fila para comprar cervejas é mais demorada do que a tentativa de chegar junto do palco. Falta pouco tempo para os REM iniciarem o concerto, mas tudo o que vejo é a ausência de expectativa, várias pessoas tiram fotografias de costas viradas para o palco, um grupo acende um charro e discute, em vozes estridentes, o jogo entre o Sporting e o Benfica do dia seguinte. Existem mais lugares sentados do que plateia de pé. Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills entram, vinte e cinco anos de música e canções nas costas, e tudo o que a sua audiência faz é cruzar os braços e olhar em frente. Estas são as novas canções de Around the Sun, ninguém sabe a letra, os portugueses não estão aqui para aprenderem ou experimentar o entusiasmo das coisas desconhecidas. Nós somos os mortos-vivos de pulsação fraca e curiosidade reduzida. Mas, ao contrário do que se passa nos filmes, nem sequer temos a capacidade de nos alimentarmos dos outros. Escolhemos a facilidade de devorar o próprio braço. Por vezes, uma melodia familiar soa e o corpo contorce-se, movimentos mecânicos, vozes em coro, agora sim, “eu conheço esta”, a validação pessoal e o sentimento de grupo, “eu conheço esta”, e percebo que as pessoas não estão interessadas em ouvir os REM. Não é essa a experiência que procuram. A maioria apenas quer estar lá. Não sabem que os eventos se devem viver, não somente presenciar.
Os concertos em Portugal são cada vez mais estranhos. No pavilhão Atlântico, a fila para comprar cervejas é mais demorada do que a tentativa de chegar junto do palco. Falta pouco tempo para os REM iniciarem o concerto, mas tudo o que vejo é a ausência de expectativa, várias pessoas tiram fotografias de costas viradas para o palco, um grupo acende um charro e discute, em vozes estridentes, o jogo entre o Sporting e o Benfica do dia seguinte. Existem mais lugares sentados do que plateia de pé. Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills entram, vinte e cinco anos de música e canções nas costas, e tudo o que a sua audiência faz é cruzar os braços e olhar em frente. Estas são as novas canções de Around the Sun, ninguém sabe a letra, os portugueses não estão aqui para aprenderem ou experimentar o entusiasmo das coisas desconhecidas. Nós somos os mortos-vivos de pulsação fraca e curiosidade reduzida. Mas, ao contrário do que se passa nos filmes, nem sequer temos a capacidade de nos alimentarmos dos outros. Escolhemos a facilidade de devorar o próprio braço. Por vezes, uma melodia familiar soa e o corpo contorce-se, movimentos mecânicos, vozes em coro, agora sim, “eu conheço esta”, a validação pessoal e o sentimento de grupo, “eu conheço esta”, e percebo que as pessoas não estão interessadas em ouvir os REM. Não é essa a experiência que procuram. A maioria apenas quer estar lá. Não sabem que os eventos se devem viver, não somente presenciar.
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