quarta-feira, janeiro 21, 2004

I wish I was a fucking fisherman

A primeira coisa em que penso é na harmonia, como se todo o gesto fosse ensaiado. Depois disciplina, o respeito pelas regras, a conformidade do vestuário. Todos são parte da mesma alma, um sentimento religioso, o primeiro é irmão gémeo do segundo de dedos entrelaçados com o terceiro que sorri para o quarto. Luzes, brilho, cores, um dia artificial mais bonito do que a realidade. A imagem pára por momentos, dentes brancos e perpétuos, estrelas que centelham coladas a braços bronzeados, pêlos loiros que ondulam em vagas descendentes e desaguam em mãos delicadas. Estas são as pessoas cuja vida se resume a este momento.

Olho e imagino-a. Vejo uma morena que pede um gin tónico enquanto se encosta ao bar de madeira - pé suspenso no ar, calcanhar desnudo, sapato a balancear - e sei que ela apaga no prato da sobremesa o cigarro que sempre fuma depois do jantar, fica na sala de cinema até o genérico terminar e não responde a chamadas no telemóvel de números não identificados. Cedo se tornará numa personagem de um livro, imortal pelas minhas palavras, mesmo que não o saiba. O meu amigo Bill, também ele escravo das letras, acredita que os escritores devem ser foragidos da justiça, um perigo para governos e sociedade. ‘Se não recebes ameaças de morte, estás a fazer alguma coisa de errado. Um fatwa é a tua melhor crítica.’ Mas nunca consigo desmascarar aqueles por quem estou apaixonado. Sou um escravo da ilusão.

Tenho um jogo preferido. Quando vou a um bar, peço cinco shots de whisky. Coloco-os em fila. Para cada um que bebo, imagino uma profissão diferente. O que eu queria é querer ser um pescador.
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