Adivinhem quem voltou
No centro da pista de dança no “The House of Blue Leaves” está uma loira alta e escultural vestindo o que parece um fato de treino amarelo, é difícil dizer, as manchas de sangue tornaram a cor ambigua. Na mão direita uma espada, mas não uma espada qualquer: é uma espada Hattori Hanzo. Vermelho escorre pela lâmina. A Noiva, também conhecida como ‘Black Mamba’, espera. Num canto, uma mulher grita na visão do seu próprio braço decepado, afundada numa poça das suas próprias lágrimas e fluidos. Ouvem-se também passos, madeira que range, ruído, abelhas que se juntam para defender a sua rainha. Rodeada por todos os membros do ‘Crazy 88s’, o mais perigoso grupo yakuza, muralha que se levanta em defesa de O-Ren Ishii, a loira levanta o aço acima da cabeça, as duas mãos segurando o punho. Dentro de dez minutos, os que não estiverem mortos voltarão para casa incompletos. Quando se luta com um samurai e se perde um membro, seja perna ou mão, este pertence ao vencedor.
Quentin Tarantino garante que ‘Kill Bill’ é o verdadeiro sucessor de ‘Pulp Fiction’. Talvez esteja envergonhado pela sensibilidade que demostrou em ‘Jackie Brown’, como alguém que diz amo-te e se arrepende da exposição no minuto seguinte. A decepção crítica e comercial à sua prova de maturidade conduziu a um hiato de seis anos, a dúvidas sobre o seu talento, a boatos sobre um realizador que se acomodou ao próprio estatuto de génio, figura de culto, aquele que mudou a face do cinema contemporâneo. Sentado na sua sala de projecções privada, uma ganza acesa no cinzeiro, maratonas de filmes que se alargavam até ao amanhecer, Tarantino decidiu, como ele próprio confessa, ‘testar os limites’. ‘Kill Bill’ é puro exercício de estilo e, opinião corrente, o filme americano mais violento de sempre. Na minha opinião, um filme impar pelas constantes contradições que provoca. É um prazer culpado que nos invade, a gargalhada perante jorros exagerados de sangue que inundam o ecrã envergonha a maioria do público. É de conteúdo quase adolescente (duas mulheres lindas a lutar com espadas, o que se pode pedir mais?) mas é também um manual de referências cinematográficas – desde os ‘Westerns Spaghetti’ do Sérgio Leone até ao cinema de artes marciais dos irmãos Shaw, passando pela banda desenhada Manga. É para ser visto por muitos mas com constantes piscar de olho para apenas alguns. É feito para homens onde as mulheres são protagonistas, figuras de poder e ambição, vingança e crueldade masculina. É o altar que Quentin construiu para Uma Thurman apenas para obrigar a sua personagem a sofrer actos indescritíveis (como ser alvejada na cabeça pelo pai do filho ainda por nascer ou ser violada enquanto está em coma). É uma prova de amor pelo cinema de acção mas engana e trai o espectador ao dividir o filme em dois ‘volumes’, egoísmo máximo do realizador que se recusa a sacrificar pelo fã, aquilo que no fundo também é. É um filme de Quentin Tarantino sem diálogo, poderia ser um filme mudo, talvez a maior contradição de todas. É brilhante mas provoca saudades.
O-Ren Ishii, líder do submundo de Tóquio, também conhecida como Cottonmouth, antigo membro das DiVAS – Deadly Viper Assasination Squad -, espera a Noiva num idílico jardim japonês coberto de neve tão suave como algodão. Antigas colegas, agora inimigas, esta luta com um vencedor antecipado é tão graciosa como um número musical. Sabemos que a Noiva nunca será derrotada, mas o mérito da luta não pode ser questionado. O sangue de ambas será derramado mas apenas uma ficará de pé. O-Ren Ishii é o primeiro nome na lista de pessoas a matar. O último é Bill.
No centro da pista de dança no “The House of Blue Leaves” está uma loira alta e escultural vestindo o que parece um fato de treino amarelo, é difícil dizer, as manchas de sangue tornaram a cor ambigua. Na mão direita uma espada, mas não uma espada qualquer: é uma espada Hattori Hanzo. Vermelho escorre pela lâmina. A Noiva, também conhecida como ‘Black Mamba’, espera. Num canto, uma mulher grita na visão do seu próprio braço decepado, afundada numa poça das suas próprias lágrimas e fluidos. Ouvem-se também passos, madeira que range, ruído, abelhas que se juntam para defender a sua rainha. Rodeada por todos os membros do ‘Crazy 88s’, o mais perigoso grupo yakuza, muralha que se levanta em defesa de O-Ren Ishii, a loira levanta o aço acima da cabeça, as duas mãos segurando o punho. Dentro de dez minutos, os que não estiverem mortos voltarão para casa incompletos. Quando se luta com um samurai e se perde um membro, seja perna ou mão, este pertence ao vencedor.
Quentin Tarantino garante que ‘Kill Bill’ é o verdadeiro sucessor de ‘Pulp Fiction’. Talvez esteja envergonhado pela sensibilidade que demostrou em ‘Jackie Brown’, como alguém que diz amo-te e se arrepende da exposição no minuto seguinte. A decepção crítica e comercial à sua prova de maturidade conduziu a um hiato de seis anos, a dúvidas sobre o seu talento, a boatos sobre um realizador que se acomodou ao próprio estatuto de génio, figura de culto, aquele que mudou a face do cinema contemporâneo. Sentado na sua sala de projecções privada, uma ganza acesa no cinzeiro, maratonas de filmes que se alargavam até ao amanhecer, Tarantino decidiu, como ele próprio confessa, ‘testar os limites’. ‘Kill Bill’ é puro exercício de estilo e, opinião corrente, o filme americano mais violento de sempre. Na minha opinião, um filme impar pelas constantes contradições que provoca. É um prazer culpado que nos invade, a gargalhada perante jorros exagerados de sangue que inundam o ecrã envergonha a maioria do público. É de conteúdo quase adolescente (duas mulheres lindas a lutar com espadas, o que se pode pedir mais?) mas é também um manual de referências cinematográficas – desde os ‘Westerns Spaghetti’ do Sérgio Leone até ao cinema de artes marciais dos irmãos Shaw, passando pela banda desenhada Manga. É para ser visto por muitos mas com constantes piscar de olho para apenas alguns. É feito para homens onde as mulheres são protagonistas, figuras de poder e ambição, vingança e crueldade masculina. É o altar que Quentin construiu para Uma Thurman apenas para obrigar a sua personagem a sofrer actos indescritíveis (como ser alvejada na cabeça pelo pai do filho ainda por nascer ou ser violada enquanto está em coma). É uma prova de amor pelo cinema de acção mas engana e trai o espectador ao dividir o filme em dois ‘volumes’, egoísmo máximo do realizador que se recusa a sacrificar pelo fã, aquilo que no fundo também é. É um filme de Quentin Tarantino sem diálogo, poderia ser um filme mudo, talvez a maior contradição de todas. É brilhante mas provoca saudades.
O-Ren Ishii, líder do submundo de Tóquio, também conhecida como Cottonmouth, antigo membro das DiVAS – Deadly Viper Assasination Squad -, espera a Noiva num idílico jardim japonês coberto de neve tão suave como algodão. Antigas colegas, agora inimigas, esta luta com um vencedor antecipado é tão graciosa como um número musical. Sabemos que a Noiva nunca será derrotada, mas o mérito da luta não pode ser questionado. O sangue de ambas será derramado mas apenas uma ficará de pé. O-Ren Ishii é o primeiro nome na lista de pessoas a matar. O último é Bill.
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