quinta-feira, novembro 17, 2005

(Auto-Terroristas - conclusão - about fucking time, isn't it?)

Ouço a água a correr na casa de banho. Deitado na cama sozinho, o tecto parece agora infinito e sem cantos e engole-me. Sinto conforto pela ausência de roupa, adoro a falsa intimidade criada quando duas pessoas se revelam nas suas imperfeições. O ar está pesado, tem nas costas suor e sexo e saliva e orgasmo. Ela entra e perante o cansaço torna-se absoluta, não consigo distinguir limites, onde acabam os dedos dos pés ou se um sorriso lhe ilumina os lábios. Cerro a vista numa tentativa de definição. Aprendi que exijo decorar tudo o que amo, que afinal os pormenores são essenciais perante o deslumbramento. Ela pergunta-me porque é que olho para ela desta maneira, assim. Beija-me e encaixa-se no meu ombro com uma inocência que apenas vive nos loucos, bêbados e anjos. Adormecemos numa acção doce e curta, como uma dança entre dois velhos. A respiração é calma e harmoniosa. A última coisa de que me lembro é a frase

O fim de tudo

e a certeza de que o quarto episódio nunca será documentado.
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