segunda-feira, dezembro 19, 2005

Os Reis da Selva

Está um tipo de brinco e cabelo espetado à minha frente, que atende o telemóvel e diz

‘Estou a ver o King Kong. Não, não, posso falar, não há problema. Mais ou menos, o macaco é giro’

Ao seu lado, a rapariga chama ‘Cabra’ à Ann Darrow

Há uma fila de homens enormes que também falam com as personagens do ecrã e batem palmas enquanto comem pipocas. Antes, dois elementos do grupo foram expulsos por polícias, apesar de prometerem que

‘Está bem, eu compro um bilhete’

Uma criança de boné e copo de papel de cinco litros com Coca-Cola levanta-se três vezes durante a projecção, nunca pede ‘desculpa’ ou ‘com licença’ e insiste em pisar os pés à minha namorada.

Entretanto, os polícias ficam à porta de saída, a ver o filme. Como não se ouve o barulho da estática, sei que os rádios que os ligam à Central estão desligados.

Estamos nas Amoreiras, no Centro de Lisboa.

Antes, um amigo dizia-me que já não tinha paciência para ir ao cinema. Preferia o ecrã plasma, as colunas de som e o conforto do sofá. E a garantia de silêncio.

E, naquele segundo, numa sala repleta de pessoas que não fazem ideia de como se devem comportar, ou não estão interessadas em o fazer, pensei que ele poderá ter razão.

Mas eu não tenho ecrã plasma, colunas de som e o meu sofá não é assim muito confortável. E, como sou contra a Pirataria, teria que esperar quatro meses até a edição do filme em DVD.

Ou seja, estou fodido, de uma maneira ou doutra.

Desafio para um duelo qualquer pessoa que acredite que o Homem é um animal civilizado.
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